A cidade de Itapajé vive dias em que o poder tem cor — e ela é verde. O atual prefeito, apaixonado pela tonalidade de seu partido, transformou o município em uma vitrine partidária. Não escapou nada: prédios públicos, praças, e até o Cemitério Municipal foram pintados para refletir sua marca política.
Mas por trás da tinta, o que se vê é arrogância, abuso e manipulação. O gestor, conhecido por seu temperamento autoritário e agressivo, comporta-se como dono da cidade. Usa a fé, as igrejas e as promessas como ferramentas de controle sobre uma população que luta diariamente contra a fome e o desemprego.
Durante o Dia de Finados, o que deveria ser um momento de respeito e silêncio virou palco de propaganda. O prefeito transformou o cemitério recém-pintado em cenário de comício: distribuiu água mineral, ofereceu exames médicos e posou como benfeitor diante das câmeras. Uma encenação planejada, que revela mais sobre sua ambição do que sobre qualquer gesto de humanidade.
Houve quem achasse o cemitério tão bonito que brincou em se “suicidar para ser sepultado ali”. Outras pessoas disseram que voltariam para “passear” entre os túmulos. Cenas grotescas, que mostram como a carência e o assistencialismo distorcem a dignidade de um povo que precisa de emprego e não de favores.
Itapajé vive sob o peso do silêncio.
Muitos se calam — ou se vendem — para manter o pouco que têm. A miséria, combinada com o medo, faz do povo refém. O mais triste é ver padres e pastores, que deveriam ser voz de esperança, cedendo ao jogo do poder e entregando, junto com sua autoridade moral, as almas dos fiéis.
Como disse o presidente Lula certa vez, “o político é vítima do eleitor”. Mas em Itapajé, é o eleitor que vem sendo vítima — da arrogância, da manipulação e da cor que pinta uma cidade inteira com o tom do autoritarismo.
Irapuan Monteiro